23 de Janeiro, 19h: “O Quadrado”

RealizaçãoRuben Östlund

Intérpretes: Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West, Christopher Læssø

SUE/DIN/ALE/FRA, 2017, 142′

Christian é um homem respeitado que trabalha como curador num museu de arte contemporânea. É pai extremoso de duas crianças pequenas, conduz um carro eléctrico e contribui como pode em todas as causas humanitárias. Em suma, é um homem de bem.
Profissionalmente, o projecto que tem agora em mãos é “O Quadrado”, uma instalação peculiar que convida os visitantes a reflectir sobre altruísmo. Para o ajudar na promoção do evento, Christian conta com o departamento de relações públicas do museu. Mas os eventos que se sucedem acabam por lançar Christian numa crise que fará vir ao de cima uma versão menos “politicamente correcta” de si mesmo…
Palma de Ouro na 70.ª edição do Festival de Cannes, uma comédia negra com assinatura do sueco Ruben Östlund (“Força Maior”) e interpretações de Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West e Terry Notary.
Vencedor de 5 European Film Awards 2017, entre os quais os de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento.

 

A arte e as suas ambivalências

Foi com “O Quadrado” que o sueco Ruben Östlund arrebatou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2017: uma crónica, entre o sério e o irónico, sobre as nossas relações com a arte e os objectos artísticos.

De que falamos quando falamos de arte contemporânea?… A acreditar no filme “O Quadrado”, falamos de uma grande confusão, tanto no plano individual como institucional. Ou seja: o filme do sueco Ruben Östlund, vencedor da Palma de Ouro de Cannes (no passado mês de Maio) lança uma série de pistas, umas realistas, outras mais ou menos burlescas, para nos confrontar com as ambivalências do nosso mundo mediatizado.

Tudo se passa em torno da personagem do director (Claes Bang) de um museu de Estocolmo que se descobre assombrado pelos mais variados incidentes, desde a carteira que lhe roubam na praça do próprio museu até à conservação de algumas insólitas peças que tem em exposição… Isto sem esquecer a presença insólita, misto de sedução e ameaça, de uma jornalista (Elizabeth Moss) que o quer entrevistar.

Östlund combina tudo isso numa teia a que não podemos deixar de reconhecer agilidade e alguns efeitos desconcertantes. Não parece que o seu filme esteja muito empenhado em “dizer” algo de muito consistente sobre aquilo que coloca em cena (a integração do tema dos refugiados soa mesmo a demagogia fácil). O certo é que, por vezes, em grande parte através dos actores, “O Quadrado” consegue expor a falsidade intrínseca de tantas relações do nosso tempo, supostamente construídas em nome da transparência e do “progresso”.

Certamente não por acaso, em Cannes, o filme foi visto por gente muito respeitável (a começar pelo júri presidido por Pedro Almodóvar) como um sugestivo reflexo de alguns impasses do nosso viver europeu… Talvez. Em todo o caso, nesse território e também na secção competitiva, “Happy End”, de Michael Haneke, distinguiu-se, creio, por outra subtileza e uma bem diferente perturbação — digamos apenas que, para já, não consta das listas dos distribuidores portugueses.

Crítica de João Lopes

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