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04 de Abril, 19h: “Elvis Volta a Casa”

Fic | Alb. R. Uni. | 2017 | M/14 | 94’

Realização: Fatmir Koci

Interpretação: Dritan Kastrati, Amus Muji Zaharia, Erand Hoxha

Mickey, um albanês ilegal que morava em Londres, nos tempos livres é imitador de Elvis Presley. Por isso, ele é contratado para entreter as tropas nas guerras dos Balcãs de 1999. Mas surgem problemas e Mickey (vestido como Elvis Presley) foge- directo para a zona de guerra. Ali é capturado por um grupo de crianças refugiadas, apanhadas na impiedosa guerra.

Prémios:

Prémio Melhor filme Internacional do Harlem International Film Festival, EUA

Prémio Especial do Júri do Arizona International Film Festival, EUA

Prémio Melhor Actor Principal (Dritan Kastrati) do International Filmmaker Festival of World Cinema, London – Reino Unido

Menção Especial Longa-Metragem do Avanca Film Festival, Portugal

Sobre o Realizador: Fatmir Koci nasceu em 1961 na Albânia. Estudou drama e realização de Cinema em Tirana. Argumentista e Realizador, com filmes e documentários seleccionados e«nos Festivais de Veneza, Roterdão, Istambul, Thessaloniki, Montreal, Palm Springs, MOMA, Londres e muitos outros.

New York Times, Cahiers du Cinema, Le Monde, Le Figaro, The Montreal Times escreveram sobre os seus filmes. O Cinema de Koçi explora a Albânia contemporânea, a história do seu país, a cultura europeia e mediterrânea.

14 de Fevereiro, 19h: “A Noiva”

Fic | Port | 2022 | M/ 12 | 81’

Realização Sérgio Tréfaut

Interpretação: Joana Bernardo, Hugo Bentes, Lola Dueñas

A Noiva, em análise

“A Noiva” é uma obra de Sérgio Tréfaut, que conta com Joana Bernardo no elenco principal!

CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS, MAS NINGUÉM VAI PARA O PARAÍSO…!

Habitualmente não consulto muita informação antes de visionar um qualquer filme, a não ser a rigorosamente indispensável para o situar, mais as suas diversas componentes estruturais, num contexto de produção específico. E isto porque, por exemplo, um filme sobre o Daesh realizado por um militante de uma organização radical islâmica seria igual ou semelhante ao realizado por um extremista cristão, mesmo que usasse a mesmíssima matéria primordial relativa ao mesmo assunto? Pode acontecer, mas só por uma bizarra e estranha coincidência. Deste modo, só vendo se dissipam as dúvidas. Por outro lado, as notas de intenções que acompanham muitos projectos de filmes são muitas vezes meros exercícios especulativos, literatura de cordel e poeira lançada aos olhos de quem vai julgar a oportunidade de apoio financeiro. Quantas vezes não encontrei nas referidas notas, enquanto júri do IPACA, ICAM e do actual ICA, abundante produção literária que indicava uma direcção X e, uma vez o filme concluído, o que se via na cópia síncrona era um resultado Y. Por isso, repito, prefiro visionar os filmes por aquilo que eles são e julgar o que está delimitado pelas quatro linhas do enquadramento e não por aquilo que os produtores ou realizadores queriam que eles fossem. Mas existem excepções, como se costuma dizer, que acabam por confirmar a regra. E uma delas chama-se A NOIVA, 2022, filme realizado por Sérgio Tréfaut, cineasta nascido no Brasil mas radicado em Portugal e que desde há muito vem dividindo a sua carreira cinematográfica entre os dois países e o mundo, nos domínios do documentário e da ficção, algo que não deixa de ser importante e visível na definição geral do modelo narrativo que observamos na sua derradeira longa-metragem que a seguir passo a analisar. Por serem significativas as palavras que o realizador e argumentista escreveu, divulgadas numa nota de imprensa intitulada “as razões de um filme”, aqui deixo alguns excertos dessa prosa que ajuda a perceber, não as intenções, mas sim as motivações para avançar para um projecto sobre uma realidade que os mais atentos aos fenómenos da geopolítica e dos conflitos prevalecentes nas mais diferentes regiões do globo já conhecem, mas que nunca será demais acolher como complemento da informação anteriormente recebida: “Quando, em Junho de 2014, o auto-proclamado Estado Islâmico fez de Mossul a sua capital e Abu Bakr Al-Bagdadi declarou o início de um novo califado na Grande Mesquita de Al Nur, não acreditei no que via e ouvia. Eu tinha visitado Mossul várias vezes no ano anterior, durante a pesquisa para um documentário sobre as consequências da intervenção norte-americana no Iraque. Ainda guardava vivos na memória os cheiros e as cores do mercado da cidade. (…) Perguntava-me o que teria acontecido àqueles vendedores de tão variadas origens e credos: cristãos, arménios, curdos, judeus, chiitas, sunitas”. Depois de fazer a localização do espaço vital de A NOIVA, Sérgio Tréfaut interroga-se sobre a adesão de muitos europeus aos pressupostos existenciais do Daesh, sobretudo dos jovens que aos milhares se deslocavam para a Síria e para o Iraque, referindo: “E não pertenciam apenas às segundas gerações da imigração muçulmana. Alguns eram jovens cristãos, ou sem origem religiosa, que se tinham convertido a uma estranha forma de idealismo assassino. Em Portugal uma vintena de combatentes passou a ter cara, nome, destaque na imprensa, direito a capa de revista. (…) Estes jihadistas portugueses eram facilmente separáveis em dois grupos: os jovens de origem africana (…) que tinham ido jogar futebol no UK Football Finder ou tentar a sorte de outra maneira no Reino Unido, e que tinham sido convertidos por extremistas paquistaneses em Londres, e os filhos da imigração portuguesa na Europa, em contacto próximo com as comunidades muçulmanas na Europa do Norte, marcadas por um forte sentimento de rejeição.” Depois de salientar o elenco do seu possível filme, Sérgio Tréfaut descreve na mesma nota a hipótese de argumento que a partir de 2015 desenvolveu e que devia concentrar a atenção no percurso de um desses rapazes, jogador de futebol. Para isso leu biografias de jihadistas famosos como Jihadi John, falou com sobreviventes, seguiu os crimes praticados pelo Daesh, sem no entanto conseguir compreender completamente as motivações que levavam rapazes e raparigas de uma pequena-burguesia urbana a virar do avesso a sua vida e a vida de muitos a quem apelidavam de infiéis. “Quando tinha o argumento quase pronto, cheguei à conclusão que aquele não era o filme que eu queria ver. Parecia um biopic, um thriller para a Netflix. (…) Transmitia talvez a ilusão de compreender um percurso que eu não compreendia, apesar de ter estudado o assunto.” Neste ponto do seu depoimento, Sérgio Tréfaut introduz-nos ao ponto de viragem que o fez sair desta sinuosa estrada para entrar no estreito caminho de um outro projecto. De certo modo, uma abordagem mais rara da problemática jihadista, um novo projecto erguido sobre o anterior e sobre as cinzas da queda de Mossul, reconquistada entretanto pelas forças curdas e pelo exército iraquiano, com apoio internacional. E aqui nasceu a personagem protagonista de A NOIVA, a mulher de quem agora se fala. Na verdade, este virar de agulha para a componente feminina de uma guerra que se quer santa, apesar de diabólica nas suas dramáticas consequências, constitui na minha opinião uma opção acertadíssima porque através dos olhos de uma jihadista, convicta do seu papel de repouso carnal do guerreiro e de piedosa mãe procriadora, iremos desde as primeiras sequências sentir a devastação física, espiritual e moral do conflito que ali se desenrolou e que, infelizmente, ainda se desenrola, assim como a visão redutora que os vencedores insistem em defender perante uma realidade que parecem não compreender, apesar de suspeitarmos que pela radicalidade da sua posição justiceira passa muitas vezes a ideia de que não querem compreender. Porque alguns juízes, ao julgarem os crimes do Daesh, fazem-no com a má consciência dos crimes que eles próprios aceitaram que a parte vencedora cometesse ou as barbaridades que cinicamente encobriram.

Quando ao início vemos a execução de prisioneiros do Daesh (incluindo a do marido da noiva que se encontra grávida) ser praticada diante dos olhos das suas mulheres e companheiras, o que isso significa de barbárie não fica longe da barbárie que se condena ao inimigo. Esta noiva, personagem interpretada de forma segura pela portuguesa Joana Bernardo, enquanto viúva sofre a pressão da sua anterior associação matrimonial, sendo submetida de modo compulsivo a um conjunto de provações e humilhações que irá afectá-la e aos dois filhos, ainda crianças. Tudo conjugado com a frágil posição e com as contradições que se depreendem do comportamento das restantes mulheres submetidas ao mesmo cativeiro. Todas esperam o julgamento e algumas suspeitam, ou sabem mesmo, que a justiça de ressonâncias marciais ali aplicada irá acabar por ditar a sua execução. Todo o filme vai ser dominado por este conflito dramático entre a vida e a morte, a incerteza do desfecho, algo impossível de retirar da equação ficcional que está sobejamente e bem concentrada na realidade palpável, proto-documental, da análise concreta de uma situação concreta. No rosto de Joana Bernardo, quer no seu olhar assustado, impotente ou acusador, quer nos seus prolongados silêncios ou nas suas parcas intervenções verbais, podemos vislumbrar um outro filme interior, povoado de emoções que vão gradualmente crescendo, digamos, purificadas pela metamorfose da consciência que se anuncia a cada passo que a vemos dar, sozinha ou amontoada nas frias e sombrias celas de uma prisão com as restantes acusadas de cumplicidade com os guerrilheiros do Daesh. Num determinado ponto, ela acaba por proferir um depoimento que ficará como a mais directa, mas também mais ambígua das suas declarações. Ela diz que “ninguém vai para o paraíso”. Está a falar do passado, do presente, do futuro? Significa essa frase, no meio de outras que a denunciam, que o seu rumo mudou? Deixou de aceitar o seu papel passivo de noiva, mãe e combatente, para assumir um outro papel que pode ou não ser um posicionamento militante? Seguramente, voltando de novo ao depoimento de Sérgio Tréfaut, não restam dúvidas de que essa ambivalência constitui uma das mais bem construídas mais-valias de A NOIVA: “Acabei por fazer um filme em contraponto do que via nos media, onde a maioria dos meios ocidentais procurava explicações sociológicas ou psicológicas para algo que continuará sempre a ser misterioso. Nos piores casos, havia repórteres que procuravam colocar-se no lugar da justiça. Assumi que seria interessante fazer o contrário: oferecer ao espectador a ilusão de estar num lugar onde nunca esteve e descobrir uma realidade perturbadora, uma personagem dividida entre dois mundos, sem oferecer um conforto explicativo”.

Pergunta número um, a mais perturbadora quando aqui se chega: Quem será afinal esta mulher? Esta adolescente que pensa como uma adulta sairá dali derrotada ou vitoriosa? De facto, crescei e multiplicai-vos, mesmo sabendo que o Paraíso não existe ou, pelo menos, já não está ao virar da esquina. Em última análise, fica o inferno da ideologia que prevalece muito para além dos escombros materiais provocados pela guerra.

Escrito por João Garção Borges para magazine-hd.com.

07 de Fevereiro, 19h: “Por detrás da moeda”

Doc | Port | 2019 | M/14 | 93’

Realização: Luís Moya.

Sinopse: O realizador Luís Moya apresenta um retrato sobre músicos de rua portuenses, em “Por Detrás da Moeda”.

“Por Detrás da Moeda” é um documentário sobre músicos de rua, no Porto. Através de uma conversa informal, de letras de músicas, dos sons da cidade e de elementos visuais, conhece-se a realidade destes artistas.

Nuno Norte, narrador do documentário, fala na primeira pessoa, recordando os tempos em que tocava na Rua de Santa Catarina. O facto de ter vencido o programa televisivo “Ídolos”, em 2003, trouxe-lhe todo um novo mundo, fazendo-o transitar das ruas para os palcos. Ainda assim, continua consciente de que um dia se pode estar no topo e, no seguinte, no fundo do poço.

Rodado no Porto com alguns dos mais carismáticos músicos de rua da cidade, o filme acompanha, entre outros, Alexandre Amorim, um dos fundadores dos Pippermint Twist, grupo que, nos anos 80, partilhou o top de vendas com os Xutos & Pontapés.

Com o cantor Nuno Norte e o baixista Miguel Cerqueira, fundador dos Trabalhadores do Comércio, esta longa-metragem é também um tributo à cidade do Porto.

Prémios: Prémio do Público e Menção Documentário no FantasPorto 2020

Melhor Som nos Prémios Tietê 2022 (São Paulo, Brasil)

Luís Moya, natural do Porto, licenciou-se em Cinema e Audiovisual na Escola Superior Artística do Porto (ESAP) e na Escola de Artes de Bruxelas (Sint-Lukas), na Bélgica. Realizador, repórter de imagem e editor de vídeo, colabora com vários canais de televisão nacionais e internacionais. O documentário “Por Detrás da Moeda” é a sua primeira longa-metragem.

31 de Janeiro, 19h: “Paris 13”

Fic | Fran | 2021 | M/16 | 105’
Realização: Jacques Audiard
Interpretação: Noémie Merlant , Makita Samba , Lucie Zhang

“Paris 13”, o mais recente filme de Jacques Audiard (“Ferrugem e Osso, “De Tanto Bater O Meu Coração Parou”) é um daqueles filmes que tem como protagonista um bairro, uma cidade dentro da cidade que é Paris. Les Olympiades, como assim são conhecidas, são umas torres residênciais situadas na 13ª arrondissement da cidade, desenhadas pelo arquiteto Michel Holley. Construídas na década de 1970 com o propósito de atrair jovens profissionais, nestas Olympiades tudo é espetáculo, e o olho cinematográfico de Audiard encontra nelas um sintoma do nosso próprio tempo: grande cinema este, um choque frontal entre o urbanismo fanático da organização dos Homens no espaço, e a fisicalidade táctil dos ecrãs de telemóvel, essas praças virtuais a que dedicamos a nossa atenção – mas também o nosso corpo.
O flime de Audiard, que na verdade vai beber inspiração a “Les Intrus”, uma banda desenhada com autoria de Adrian Tomine publicada em 2015, fala sobre a experiência de viver numa metrópole no século XXI. Nesta adaptação para o grande ecrã, o realizador contou também com a colaboração de argumentistas de luxo: Céline Sciamma (a realizadora de “Retratro de uma Rapariga em Chamas” e do mais recente “Petite Maman”) e Léa Mysius (realizadora de “Ava”, mas também uma colaboradora regular de Arnaud Desplechin, para quem já escreveu um par de filmes). Um trabalho polifónico sobre uma cidade hiper polifónica, “Paris 13” é focado na história de três protagonistas.

Émilie (Lucie Zhang), uma jovem com descendência taiwanesa que vive sozinha num apartamento da avó de quem está encarregue de cuidar; Camille (Makita Samba), um professor de secundário prestes a abandonar o seu emprego para se poder dedicar à sua tese de doutoramento, e que se torna inquilino de Émilie; e Nora (Noémie Merlant), uma jovem mulher que decide regressar à grande cidade para se afastar de um relacionamento abusivo na sua cidade natal, e que aproveita a situação para continuar os estudos na universidade. No filme de Audiard, filmado num preto e branco que é todo um statment, a ação narrativa inclina-se frequentemente para uma pose que apetece dizer metafórica, como se os personagens fossem peões de um Xadrez jogado fora de campo, um jogo do qual nunca parecem ter sequer verdadeira noção.
É aqui que reside a maior qualidade do flime, na forma como Audiard vai ao encontro do moderno a partir do fascínio pela abstração, num tom suficientemente ambíguo para que se possa afirmar com certeza se celebra ou se aponta o dedo a este nosso mundo, um mundo que promete a utopia da comunidade, mas que teima em fazer dos Homens ilhas. Ninguém dúvida que o trio de protagonistas possa realmente existir (claro que existem), mas por outro fica sempre a impressão que os contornos biográficos que os torna nas pessoas que são pouco importam. Mas isso não impede que haja aqui um convite ao reconhecimento: na maneira como Émilie desgasta a alma num call center, por exemplo; ou na maneira como todos procuram encontrar no sexo uma espécie de elixir da juventude, um “escape” capaz de os tornar imunes às arestas mais cortantes do mundo (ao amor, a precaridade do trabalho, às relações familiares complexas…).
De uma forma muito geral, e pela forma como cruza o destino dos protagonistas, dir-se-ia que o filme de Audiard está mais interessado numa antropologia das relações na grande cidade, que propriamente na exploração da psicologia humana na era da internet. E é por aí, por esse discurso que paira sobre o filme que tem como pretexto a internet, que o preto e branco da fotografia mais fascina. É um contraste irónico (até mesmo pela tonalidade “feia” dos cinzentos em particular), como se cinema pudesse afinal desacelerar essa vertigem da presença imediata e constante do ciberespaço, esse super 24/7 hardcore dos corpos belos responsável pelo sismo narrativo do edífcio do filme, e que coloca a história em movimento quando Nora é confundida por uma cam girl (Jehnny Beth, a vocalista dos Savages, aqui numa primeira aparição cinematográfica).

Feitas as contas, é um belo regresso de Audiard.

Escrito para C7nema.net.

17 de Janeiro, 19h: “Panreal, um edifício de Nadir Afonso”

– Realização: José Paulo Santos

Sinopse

Em 1965 foi construído na cidade de Vila Real em Portugal um edifício modernista pela mão do arquiteto Nadir Afonso. São muitas as memórias vividas numa panificadora que chegou a produzir 80.000 pães por dia. As entidades competentes viraram as costas à Panreal ao inverso de inúmeros teimosos populares. A condenação e a controvérsia de mãos separadas.

Trailer

Entrevista RTP

Esta sessão contará com a presença do Realizador e de alguns intervenientes no filme e resulta de uma parceria entre o Plano Extraordinário – Cineclube de Tomar e as Unidades de I&D TECHN&ART, CGEO e Cátedra UNESCO de Humanidades e Gestão Integrada do Território