Realizador: Dominik Graf
Intérpretes: Tom Schilling, Albrecht Schuch, Saskia Rosendahl, Meret Becker, Eva Medusa Gühne, Elmar Gutmann, Petra Kalkutschke, Michael Wittenborn, Lena Baader, Catalina Navarro Kirner, Brian Völkner, Sascha Maaz, Caroline Adam Bay
Berlim, 1931. Durante o dia, Jakob Fabian trabalha no departamento de marketing de uma fábrica de cigarros, à noite vagueia por bares, bordéis e estúdios de artistas com o seu próspero amigo Labude. Quando conhece a confiante Cornelia, consegue abandonar, por momentos, a sua atitude pessimista. Apaixona-se. Contudo, também se torna vítima de uma série de despedimentos enquanto Cornelia constrói a sua carreira como atriz. Mas não é apenas o mundo de Fabian que está prestes a desmoronar…
ALE, 2021, 176′ M/16
Reencontrando o melhor cinema alemão
Sem protecção promocional, lançado em pouquíssimas salas, “Fabian”, de Dominik Graf, é um belo acontecimento cinematográfico — para não nos esquecermos da importância da produção alemã.
É verdade: importa não esquecermos a Alemanha como peça vital da história do cinema europeu — passado e contemporâneo. E tanto mais quanto não é possível omitir uma verdade rudimentar que, infelizmente, muitos agentes do mercado cinematográfico ignoram e não querem enfrentar. Que é como quem diz: algumas das maiores preciosidades do momento surgem “escondidas” em pouquíssimas salas, sem o mínimo de promoção… Acontece agora com o filme alemão “Fabian”, de Dominik Graf, adaptando o romance homónimo de Erich Kästner, centrado num jovem que, em Berlim, por volta de 1930, trabalha em publicidade e se vê envolvido numa teia de personagens, ameaças e medos que prenunciam a chegada do nazismo — o resultado é um filme de incrível vibração emocional, uma exemplar evocação histórica e também um estudo subtil sobre a condição humana. Fabian é um candidato a escritor que vive e sobrevive nas rotinas do seu trabalho no sector de publicidade de uma marca de tabaco. Quando conhece Cornelia, jovem aspirante a actriz cinematográfica, o amor que nasce parece poder resistir a todas as convulsões do momento — vivem-se os derradeiros anos da República de Weimar e os nazis vão-se afirmando, de modo brutal e inquietante, no quotidiano da cidade.
Evitando esquematismos “simbólicos”, a realização de Graf consegue a proeza de de nos devolver a complexidade emocional de uma época perturbante, sem nunca simplificar as relações entre Fabian e Cornelia. E tanto mais quanto são interpretados, respectivamente, pelos brilhantes Tom Schilling e Saskia Rosendahl — vimo-los em “Nunca Deixes de Olhar” (2018), de Florian Henckel von Donnersmarck; ela protagonizou “Lore” (2012), de Cate Shortland, prodigioso filme sobre os tempos finais da Segunda Guerra Mundial vistos a partir da experiência dos filhos de um oficial nazi. (Passou no Cineclube de Tomar em Setembro/2013)
Crítica de João Lopes